Como escrever um bom começo de texto literário
A primeira pergunta que um escritor, experiente ou não, faz ao encarar a tela do computador ou a folha em branco para pôr em prática sua ideia literária é: como escrever um bom começo de um texto literário?
A delícia e o dissabor desta tarefa é que não há regras. Então, o importante é não perder o ímpeto criativo e começar. Pode ser uma imagem, uma lembrança, um trejeito, uma descrição ou, até mesmo, o fim da história.
Neste artigo apresentaremos algumas dicas e sugestões do que levar em conta na hora de começar seu texto de escrita criativa. Lembre-se que na versão final serão necessárias revisões, ajustes e lapidações, mas antes é preciso começar.
Como começar um texto de ficção
É comum que escritores inexperientes fiquem perplexos diante da tarefa de começar um texto de ficção. Mas a confiança, inspiração, autoconhecimento e fé no próprio trabalho não vêm antes da escrita. É, justamente, a escrita que torna possíveis todas essas habilidades.
Então, comece a escrever escrevendo. A incerteza se é ou não um bom começo de texto, só poderá ser sanada depois que a história existir.
Para escrever um bom texto ficcional é preciso que o escritor coloque em prática uma espécie de dialética da criação. Isso significa que o processo de escrita criativa deve se pautar por uma atitude inicial intuitiva e, depois, por uma postura criteriosa e crítica para a versão final.
Tome cuidado para que ambas não entrem em conflito, mas esse balanço é fundamental.
Escreva sobre o que você conhece
Já falamos deste tema em outro texto. Invariavelmente textos escritos sobre temas que o escritor não conhece soam falsos e ingênuos. Então escreva sobre o que você conhece.
Isso não significa que você deva ter vivido tal ou tal experiência para escrever sobre ela. O mais importante é conhecer o tema e unir, com o elo mágico da literatura, o que você conhece com aquilo que você imagina.
Pense em Franz Kafka, que depois de uma noite de sonhos intranquilos percebeu-se, ao acordar, como um inseto. Esta cena inicial de Metamorfose foi decisiva no realismo fantástico da literatura de Gabriel Garcia Marquez.
Como inventar uma história de ficção literária
Em latim o termo inventar corresponde à ideia de encontrar. Stephen King escreveu que as histórias são como fósseis, cujo papel do escritor é desenterrá-las e trazê-las à superfície da existência.
Uma boa forma de trazer as histórias à vida é investigar, por meio da escrita criativa, as motivações das personagens. No fundo, são as ações das personagens que constituem a história. Então mostre como elas agem e deixe ao leitor a tarefa de tentar entender suas motivações.
Mas dê pistas ao seu leitor, apresente os confrontos e os dilemas das personagens. Não precisa saber tudo no começo, às vezes até mesmo para o escritor nem todas as motivações estão dadas antes da história ser escrita a primeira vez.
A primeira versão e a contribuição de todos os erros
A primeira versão de um texto precisa de duas coisas: que seja feita e que tenha a alguma eloquência. Não perca o foco e o desejo de escrever. Não caia em armadilhas de bloqueio criativo.
Arranje tempo para escrever. Nunca, nem mesmo quando for um escritor publicado, o tempo estará a seu favor. Se você tem apenas meia hora, ótimo, é o suficiente para uma primeira versão, senão de uma página de um parágrafo.
Por fim considere algo absolutamente importante. Os erros da primeira versão são sábios professores. Aproveite para tornar claro o balbuciante, para preencher os buracos e para aparar as arestas.
A regra, neste caso, é usar os erros a seu favor. Não jogue nada fora. Se algo parecer tolo agora, pode não parecer depois.
Prefira o texto tachado ao “delete”. Às vezes, a história já começou antes mesmo de você começar.
Dica de livro: Oficina de escritores. Um manual para a arte da ficção – Stephen Kock
Este texto teve como referência o primeiro capítulo do livro Oficina de escritores: Um manual para arte e ficção, de Stephen Kock.
Sinopse – Oficina de escritores: Um manual para arte e ficção
Stephen Koch, ex-catedrático do programa de pós-graduação em redação criativa da Columbia University, escreveu esse manual singular da arte da ficção.
Além de suas observações lúcidas e análises técnicas, o autor entremeia em seu texto elementos de sabedoria, orientação e comentários inspiradores a respeito de alguns de nossos maiores escritores.
Conduzindo o leitor desde o primeiro momento, o momento da inspiração, à primeira versão e à concepção do enredo, Koch é um mentor benevolente, que se compraz em oferecer boa orientação quando mais se precisa dela.
Oficina de escritores é indispensável na estante de todo escritor, para ser cuidadosamente folheado e estudado nos momentos em que a musa precisa de alguma ajuda para se manifestar.
Roberton Frizero – escritor
Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).
Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.
O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.
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