Robertson Frizero

Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Robertson Frizero

Nesta semana apresentamos uma entrevista especial com Nurit Gil, escritora nascida no Brasil, mas que desde 2017 foi morar em Israel. Esta é a segunda obra de Nurit e seu novo livro de crônicas reúne as experiências e transformações de se mudar de país juntamente com os desafios da maternidade.

A entrevista trata desse processo de escrita e de como transformar a realidade em texto literário é algo sublime, mas cheio de complexidades quando se trata de narrar nossa humanidade, como alegrias e tristezas.

“Assim como quando escrevia sobre a fase inicial da maternidade, quis abordar a realidade, não romantizar. Tento trazer nos meus textos toda a profusão de sentimentos da experiência real: é maravilhoso, é enlouquecedor, é solitário e é incrível”, conta Nurit em entrevista especial para o site Robertson Frizero.

Nurit Gil

Escritora Nurit Gl de pé, na porta de uma casa em Israel com montanhas ao fundo.
Nurit Gil (arquivo pessoal)

Nurit Gil é uma escritora brasileiro-israelense com crônicas publicadas em português e inglês nos dois países. Em 2014, lançou seu livro A Senhora Perfeitinha e outros textos, no qual conta sobre a vida tragicômica como esposa e mãe. Em 2017, mudou-se para Israel com sua família. Em 2019, trocou a agitada vida na região central do país pelo silêncio absoluto no deserto da Arava. Em Como Ser Mãe em Hebraico, a autora, que mantém um blog no jornal online The Times of Israel, fala sobre imigração, maternidade e loucuras similares, sempre com toques de humor, ironia e sensibilidade.

Site Frizero – A crônica foi o gênero pelo qual tu iniciaste a carreira de escritora. Mas quando começaste a escrever? Qual foi sua motivação inicial?

Nurit Gil – Ler, para mim, sempre foi um prazer. Escrever, uma forma de expressão. Quando eu era adolescente, meus ídolos não eram os mesmos das pessoas da minha idade – na parede do meu quarto não havia pôsteres de atores ou cantores, mas livros do Luís Fernando Veríssimo. Dessa paixão nasceu minha curiosidade e preferência pela crônica.

SF – Chama a atenção em teu estilo de crônica o olhar aguçado sobre o cotidiano, mas sempre com um humor refinado e urbano. O que mudou em tua escrita desde teu livro de estreia, “A Senhora Perfeitinha e Outros Textos”?

Nurit Gil – Gosto de inserir nas crônicas, mesmo naquelas que tratam de temas mais sensíveis, humor e auto-ironia. Porém, enquanto no primeiro livro eu utilizava situações cotidianas em textos com personagens fictícios, hoje prefiro escrever em primeira pessoa. Acho que os leitores se relacionam mais dessa forma e gosto do feedback que recebo deles.

SF – “Como ser mãe em hebraico” é o título de teu novo livro de crônicas. Do que tratam esses novos textos?

Nurit Gil – Da mesma forma que em A Senhora Perfeitinha e outros textos escrevi sobre a realidade na qual estava mergulhada, quando mudei de país senti a necessidade de escrever sobre essa experiência tão intensa. Sobre as dificuldades que eu não imaginava que existiam, sobre o entrelugar que a gente passa a habitar e sobre ser mãe nessa nova realidade.

Capa do livro Como ser mãe em hebraico. A imagem tem montanhas ao fundo e numa estrada, de costas, uma mulher caminha em direção às montanhas
Capa do livro “Como ser mãe em hebraico”

SF – Como foi a decisão de se mudar de país? Quais foram os maiores desafios – e como eles aparecem na tua Literatura?

Nurit Gil – Viver em Israel sempre foi o sonho do meu marido e ele levou 14 anos para me convencer de que a vida lá era muito consoante com os nossos valores. Eu, que não podia nem ouvir falar na ideia de mudar, amei Israel imediatamente. Parece fantasioso descrever dessa forma, mas foi uma sensação de pertencimento muito forte.

No entanto, isso não significa que tenha sido fácil: os israelenses são intensos (demais), o idioma sem vogais se escreve da direita para a esquerda e eu não entendia uma palavra do que as pessoas falavam. Só que eu tinha que fazer supermercado, reunião com professores, negociar com o eletricista e sair para trabalhar. Chorei muitas vezes, mas sempre garantindo que não, eu não queria voltar.

Assim como quando escrevia sobre a fase inicial da maternidade, quis abordar a realidade, não romantizar. Tento trazer nos meus textos toda a profusão de sentimentos da experiência real: é maravilhoso, é enlouquecedor, é solitário e é incrível.

SF – Que leitores tu imaginas que irão desfrutar desse livro?

Nurit Gil – Acredito que aqueles interessados na aventura de mudar de país, os que compartilham da experiência da paternidade e, gostaria muito, os amantes da crônica.

SF – Onde os leitores podem encontrar o “Como ser mãe em hebraico”?

Nurit Gil – No site da editora e-galaxia e nas principais lojas online do país.

E quais são os próximos passos?

Nurit Gil – No final do ano, lançaremos – eu e meu grande amigo Robertson Frizero – um romance epistolar escrito a quatro mãos. Nele, dois personagens que viveram um romance confuso voltam a manter contato. Falaremos ainda muito sobre ele – sou apaixonada por esse projeto e pelo processo por meio do qual ele nasceu.

SF – Obrigado pela entrevista – abrimos este espaço para a tua mensagem aos leitores brasileiros.

Nurit Gil – Quando se fala sobre viver em outro país, sempre vêm à tona questões como segurança, educação, sobre as dificuldades com a língua e a realização que é ter coragem.

Mas há outros detalhes. E espero que vocês gostem de mergulhar nessa experiência.

Sinopse – Como ser mãe em hebraico

Capa do livro Como ser mãe em hebraico. A imagem tem montanhas ao fundo e numa estrada, de costas, uma mulher caminha em direção às montanhas
Capa do livro “Como ser mãe em hebraico”

Ser mãe é padecer num Paraíso, ensinou-nos o famoso verso de Coelho Neto que, com o passar dos anos, transformou-se em provérbio no Brasil. Mas, e quando o padecer inclui não apenas as atribulações da maternidade, mas o desafio de exercê-la em um novo país, em uma nova língua? Como ser mãe em hebraico é um livro de crônicas como poucos. Nurit Gil tem o dom de escrever com tamanha verdade e leveza que o leitor se sentirá em uma agradável conversa com sua melhor amiga, regada a suco de maracujá e hummus, a Brasil e Israel. A obra é um importante registro de uma vivência pessoal, mas universal e pouco abordada em nossa Literatura – esse entrelugar no qual já não te sentes mais de tua pátria, mas ainda não és parte da nova terra que adotaste. Neste sentido, o livro abraça vários leitores: os interessados na rica aventura de mudar de país – e de língua, e de costumes –; os que compartilham da paradisíaca experiência da maternidade – e da paternidade, obviamente; e os que adoram ser guiados pelas palavras de uma cronista genial, de escrita límpida e, ainda assim, profundamente humana. Uma das funções da Literatura sempre foi propiciar aos leitores a oportunidade de viver certas situações – e aprender com elas – sem, necessariamente, passar pelos mesmos padecimentos. Então, aproveite, caro leitor: Nurit irá guiá-lo por um caminho que, provavelmente, nunca trilhaste – e, se reconheceres a ti mesmo em várias passagens destas crônicas deliciosas, não te surpreendas. Esse é o sinal de que tens em mãos o trabalho de uma ótima escritora.

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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