Robertson Frizero

Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Na literatura, muitas estratégias retóricas podem ser usadas e para todas elas existe um tipo de narrador que se adequa melhor aos efeitos de sentido pretendidos. Hoje, seguindo nossos estudos da obra de David Lodge vamos abordar o “autor ou narrador intrometido”.

Esse tipo de narrador normalmente é, também, onisciente. Tem uma visão panorâmica da história que conta e, por isso, às vezes, emite suas “opiniões” a respeito de eventos e personagens.

Vamos nessa explorar um novo capítulo de A arte da ficção!

Cuidado com o narrador intrometido

Há algo importante que talvez seja necessário dizer logo de cara: o narrador intrometido onisciente pode parecer, às vezes, enciclopédico. Isso nem sempre é bem visto contemporaneamente, sobretudo por vivermos em sociedades céticas e relativistas, como nos alerta Lodge.

Além disso, as ficções atuais tendem a suprimir a voz do autor, apresentando-o por meio das vozes dos personagens, que não raro são os próprios narradores.

Máquinha de escrever
Máquinha de escrever (Foto: Bicanski / Piqsels CC)

Como separar o narrador do personagem

Ainda que na cabeça do autor o papel do narrador e dos personagens estejam claramente delimitados, isto é, quando termina um e começa outro, é preciso atenção para deixar isso claro aos leitores.

Uma estratégia simples, mas funcional, é usar tempos verbais distintos para a voz do narrador e para a dos personagens. No livro de E.M. Forster, Howards End (1910), os sentimentos de Margaret, a protagonista, e de Forster autor/narrador, distinguem-se pelo tempo verbal.

Ao passo que o passado é o tempo da voz da personagem, o presente é o tempo do narrador. São estratégias sutis, mas essenciais na estrutura narrativa de um texto ficcional.

Narradores anunciados

Um artifício relativamente comum na literatura atual é o anúncio, em “alto” e bom som de que o texto narrado é ficcional. De alguma maneira essa é uma estratégia de alguns escritores pós-modernos que buscam com isso romper o realismo da literatura mais tradicional.

Josephe Heller, em Gold vale ouro (1980), usa essa estratégia:

Gold se preparava para mais um almoço – dessa vez com Spotty Weinrock – quando notou que estava passando tempo demais comendo e conversando com este livro.

Josephe Heller, em Gold vale ouro (1980)

Se valer desse recurso narrativo pode até parecer simples ou fácil, mas não é exatamente assim. Às vezes, publicizar essa estratégia pode soar artificial e, por isso, mesmo criar uma quebra narrativa desagradável aos leitores.

O narrador intrometido é um recurso que pode enriquecer, de fato, um determinado texto ficcional, mas seu uso requer cuidado, atenção e muita revisão, para não deixar nenhum detalhe de lado.

Clube de criação literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.

Porgramação Julho Clube de Criação Literária

Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:

  • Material didáticoartigos resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
  • Reuniões on-line e debates sobre Criação LiteráriaLiteratura Mercado Editorial;
  • Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
  • Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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