Arte da ficção – Autor intrometido
Na literatura, muitas estratégias retóricas podem ser usadas e para todas elas existe um tipo de narrador que se adequa melhor aos efeitos de sentido pretendidos. Hoje, seguindo nossos estudos da obra de David Lodge vamos abordar o “autor ou narrador intrometido”.
Esse tipo de narrador normalmente é, também, onisciente. Tem uma visão panorâmica da história que conta e, por isso, às vezes, emite suas “opiniões” a respeito de eventos e personagens.
Vamos nessa explorar um novo capítulo de A arte da ficção!
Cuidado com o narrador intrometido
Há algo importante que talvez seja necessário dizer logo de cara: o narrador intrometido onisciente pode parecer, às vezes, enciclopédico. Isso nem sempre é bem visto contemporaneamente, sobretudo por vivermos em sociedades céticas e relativistas, como nos alerta Lodge.
Além disso, as ficções atuais tendem a suprimir a voz do autor, apresentando-o por meio das vozes dos personagens, que não raro são os próprios narradores.
Como separar o narrador do personagem
Ainda que na cabeça do autor o papel do narrador e dos personagens estejam claramente delimitados, isto é, quando termina um e começa outro, é preciso atenção para deixar isso claro aos leitores.
Uma estratégia simples, mas funcional, é usar tempos verbais distintos para a voz do narrador e para a dos personagens. No livro de E.M. Forster, Howards End (1910), os sentimentos de Margaret, a protagonista, e de Forster autor/narrador, distinguem-se pelo tempo verbal.
Ao passo que o passado é o tempo da voz da personagem, o presente é o tempo do narrador. São estratégias sutis, mas essenciais na estrutura narrativa de um texto ficcional.
Narradores anunciados
Um artifício relativamente comum na literatura atual é o anúncio, em “alto” e bom som de que o texto narrado é ficcional. De alguma maneira essa é uma estratégia de alguns escritores pós-modernos que buscam com isso romper o realismo da literatura mais tradicional.
Josephe Heller, em Gold vale ouro (1980), usa essa estratégia:
Gold se preparava para mais um almoço – dessa vez com Spotty Weinrock – quando notou que estava passando tempo demais comendo e conversando com este livro.
Josephe Heller, em Gold vale ouro (1980)
Se valer desse recurso narrativo pode até parecer simples ou fácil, mas não é exatamente assim. Às vezes, publicizar essa estratégia pode soar artificial e, por isso, mesmo criar uma quebra narrativa desagradável aos leitores.
O narrador intrometido é um recurso que pode enriquecer, de fato, um determinado texto ficcional, mas seu uso requer cuidado, atenção e muita revisão, para não deixar nenhum detalhe de lado.
Clube de criação literária
O Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.
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