O conflito na ficção literária – Parte 1
Robertson Frizero
Iniciamos hoje uma série de três textos sobre a questão do conflito na ficção literária. Como se sabe, até pode se escrever uma história sem conflito, mas ela será capaz de prender a atenção do leitor?
O objetivo de todo escritor é prender a atenção do leitor e nada melhor para esta tarefa que apresentar a ele que os dilemas de seu personagem também podem ser os dele. É nesse sentido que a narrativa ficcional encontra a vida real.
Apresentaremos a seguir alguns aspectos fundamentais na relação entre conflito e personagem, com dicas para você aplicar na sua escrita criativa.
O que é o conflito na ficção literária?
O professor Assis Brasil em sua obra Escrever ficção. Um manual de criação literária (2019), a que recorremos em outros textos deste site, prefere chamar o que costumamos definir como “conflito essencial” de questão essencial.
O conflito dos personagens é como os nossos e tanto melhor quanto mais possam ecoar os conflitos da ficção na vida real (e isso nada ter a ver com produzir uma literatura realista, na fantasia, por exemplo, os conflitos são absolutamente conectados à vida real).
Mas há algo importante a levar em conta, um conflito não existe de forma isolada, é necessário que ele esteja conectado a uma trama que o sustente.
Da questão essencial às motivações pessoais: os dois lados da moeda do conflito
Os conflitos não são construídos de forma linear. Eles dependem de uma rede de conexões que tornam aquilo, que para uma determinada pessoa não é uma “questão”, algo fundamental para outra.
Construir um conflito é mais simples do que parece. Pare um minuto e pense em suas relações sociais, profissionais, afetivas, todas elas dão a medida de como viver em sociedade é conflituoso. E isso pode ser bom, pois para um ficcionista pode render boas histórias.
Nossa vida é cheia de questões essenciais. Basta ver como encaramos nossa carreira profissional, como lidamos com a desigualdade, de que maneira reagimos ao que vemos nos telejornais. Tudo isso é fonte inesgotável de conflitos para a ficção.
Foque em um detalhe: toda história é uma promessa. Não uma promessa de resolução de um conflito, mas de que o personagem vai levar o leitor a uma viagem com ele diante das alegrias e dissabores que é viver. É essa promessa que conecta escritor, personagem e leitores.
Qual a relação entre conflito interno e conflito externo?
Imagine uma pessoa que vive idilicamente, no emprego perfeito, com a companhia perfeita, com a saúde física e mental perfeita e, de repente, algo de extraordinário ocorre e ela passa a conviver com um dilema. Quem se sentiria conectado a uma história dessas? Como esta personagem saberia que está diante uma questão essencial?
Um conflito não surge “do nada”. Isso porque os persomagems (e as pessoas) têm inclinações e reações diferentes aos eventos da vida, alguém pode parecer completamente insensível à vida ou a um assassinato, como o personagem Mersault, de O estrangeiro, de Camus. No polo oposto está Ronquentin, de A náusea, de Sartre, sujeito dotado de sensibilidade aguda em relação às questões existenciais.
Tomando como exemplo esses personagens, recordados e citados por Assis Brasil, imaginem como cada um deles reagirá diante da questão essencial de sua narrativa ficcional.
Personagens como esses podem estar diante do mesmo fato – hipoteticamente, o corpo de uma pessoa morta cujas evidências apontam para dois suspeitos, que, a partir de agora precisam se defender das acusações -, mas a forma como um e outro se conecta à questão essencial produz consequências completamente diferentes.
Escrever é produzir conflito quanto mais possíveis de serem captados pelos leitores, maior a chance de você fisgá-los desde o começo da narrativa. Mas não seja óbvio, faça da sutileza a arte prender seu público à sua história.
Clube de criação literária
O Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.
Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:
- Material didático, artigos e resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
- Reuniões on-line e debates sobre Criação Literária, Literatura e Mercado Editorial;
- Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
- Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.
Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios
Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.
Como devo escrever e enviar minha resenha
No mês de junho o desafio é ler um romance policial escrito por uma autora brasileira.
Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].
Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.
Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.
Robertson Frizero
Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.
Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de Literatura. Longe das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.
Muito legal adorei, estou amando participar do clube estou aprendendo a cada dia coisas novas que estão me ajudando muito na minha carreira de iniciante! Obrigada