O que é um texto?
Todo mundo, seja letrado ou não, sabe o que é um texto. Ele pode ser descrito de muitas maneiras e suporta vários formatos. O texto pode ser uma frase ou um haicai, pode ser foto ou um filme – nos casos de textos audiovisuais –, pode ser até mesmo um hábito coletivamente compartilhado – os “textos” de uma cultura.
O importante para todo e qualquer ficcionista é compreender que os textos não existem, tampouco funcionam, de forma isolada. Isso deve ser levado em conta tanto na hora de escrever seus contos, romances, poemas, crônicas, etc, quanto (ou sobretudo) na hora em que você estiver lendo textos de outros autores.
Isso porque o significado de um texto não é autônomo ou autossuficiente. Vejamos. Quando Machado de Assis escreve, em Memórias Póstumas de Brás Cubas
o sentido da frase deve ser compreendido no contexto do romance em que está inserido, mas também em um contexto ainda mais amplo, a sociedade brasileira marcada pela desigualdade, pela pobreza e pela indiferença das oligarquias em relação a esta situação. “Miséria”, neste caso, não se refere exclusivamente às questões materiais, mas, principalmente, às dimensões existenciais, especialmente de escassez ética.
O texto dentro do texto
Ler (e escrever) é, afinal de contas, montar um quebra-cabeças no qual os textos vão se encadeando um no outro. Assim, uma frase funciona dentro de um parágrafo, que, por sua vez, está em uma página, e uma página em um livro, e um livro em uma cultura, de forma sucessiva.
À medida que adicionamos mais camadas ao nosso texto, ele vai se complexificando. Na verdade, é isso o que fazemos naturalmente, a única novidade, se é que há, é que passamos a ter consciência de todo esse processo.
Isso tudo significa, em última medida, que nenhum texto, enquanto algo que emerge de uma cultura, é fruto da individualidade de quem o escreve. É evidente que um texto autoral terá características peculiares, mas ele é parte do conjunto de uma determinada cultura em um dado contexto histórico.
Como compreender o significado não imediato das coisas
A riqueza de um texto está em descobrir, trazer à consciência, o significado não imediato das coisas. E isso passa por compreender as múltiplas camadas a que um texto é submetido, sobretudo na escrita criativa e na narrativa ficcional.
Nesse sentido, uma dica fundamental é jamais ler os textos como partes isoladas, fragmentos pretensamente autônomos, e sempre buscar seus contextos para enriquecer os significados.
Convém também tentar pescar – e talvez esta tarefa seja mais difícil no começo – o que é “dito” pelo texto, sem estar expresso nele. Podemos pensar no caso da frase do personagem Brás Cubas, que citamos anteriormente.
Esta estratégia é interessante para quem lê, mas para quem escreve pode ser um trunfo tremendo, pois afinal fazer dos tempos grotescos que vivemos espelho para a literatura pode não ser uma ideia das mais criativas. Daí que lançar mão de recursos redacionais mais sutis pode ser algo mais interessante, atraente e não menos relevante como crítica social.
Clube de criação literária
O Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa. Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:
- Material didático, artigos e resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
- Reuniões on-line e debates sobre Criação Literária, Literatura e Mercado Editorial;
- Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
- Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.
Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios
Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.
Como devo escrever e enviar minha resenha
No mês de junho o desafio é ler um romance escrito por um dos seguintes escritores contemporâneos brasileiros: Eda Nagayama, Eduardo Krause, Henrique Schneider, Itamar Vieira Júnior, Júlio Ricardo da Rosa, Júlia Dantas, Maria Valéria Rezende, Michel Laub, Paulo Scott e Rafael Gallo.
Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].
Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.
Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.
Robertson Frizero
Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.
Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de Literatura. Longe das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.
Ótima reflexão. Nunca tinha parado para pensar sobre o que é um texto nesse ponto de vista.