Dizer uma coisa para dizer outra
Quanto mais ferramentas de redação um escritor tiver, mais possibilidades de contar uma boa história ele tem e, às vezes, dizer uma coisa para dizer outra pode ser um exercício interessante.
Evidentemente escrever toda uma história usando ferramentas linguísticas como a ironia, por exemplo, não é uma boa ideia. Mas quando queremos dar um efeito de personalidade particular a um personagem, esses recursos podem ser bastante úteis.
Em suma, trata-se do grande truque de mostrar significados encobrindo-os.
Criar conflitos linguísticos chama atenção do leitor
O que queremos mostrar aos leitores, é que dizer uma coisa para dizer outra é uma ferramenta bastante usada por nós cotidianamente.
Basta lembrar quando um criança faz uma travessura e dizemos “Que bonito, hem?”. O que desejamos dizer com essa curta frase é o contrário do que seu sentido imediato supõe.
Há inúmeros recursos linguísticos que nos ajudam a exprimir esse sentido. Apresentaremos alguns poucos, mas bastante uteis. São eles: ironia, lítotes, preterição, reticência, eufemismo e hipérbole.
O que é ironia
A ironia é um dos recursos de linguagem mais usados e conhecidos. Sua função é inverter o sentido do que está sendo dito.
É bastante útil quando queremos mostrar a insatisfação de um personagem sem recorrer a palavras grosseiras.
O que são lítotes
Lítotes se refere à manobra discursiva de dizer “menos” para dizer “mais”. Embora na prática usemos recorrentemente as lítotes, nem sempre sabemos que essas formas de linguagem são chamadas assim.
Elas têm uma função parecida com a ironia, mas é um pouco diferente. Por exemplo, uma lítote é quando um personagem se dirige ao outro e diz “Você não é nada bobo” mas, no fundo, quer dizer “Você é um espertalhão, malandro”.
O que é preterição
Preterição é quando se diz uma coisa e, ao mesmo tempo, nega-se ela. É, por definição, a forma predileta do discurso dos políticos de verdade, então pode funcionar de forma verossímil na sua ficção.
Sempre que alguém diz algo do tipo “Dediquei minha carreira política aos pobres e necessitados, nunca puderam me acusar de corrupto, mas digo isso como memória, não como autoelogio”, está usando o recurso da preterição.
O que é reticência
Reticência, como o nome sugere, é quando se interrompe o discurso mas sem perder o sentido o que está sendo dito.
Também é um recurso muito usado cotidianamente e pode funcionar para um personagem evasivo, por exemplo. Um personagem que nunca diz as coisas completamente, para não se comprometer, mas mesmo assim diz tudo mesmo falando pela metade.
Um exemplo, quando alguém quer desqualificar uma personagem feminina e se refere a ela de forma jocosa e lacônica, mas deixando bem claro o que quer dizer. “– Sabe aquela dali? Essa é daquele tipo de mulher…”
O que é eufemismo
Eufemismo é, também, um dos recursos mais conhecidos e se refere ao modo de falar que atenua o acontecido. É uma forma de dizer uma coisa para dizer outra.
Ela pode ser usada desde personagens radicalmente moralistas ou covardes até aqueles mais sensíveis que tomam cuidado com o que dizem.
Alguns exemplos são os do tipo: “Ele está com aquela doença” para não se referir a câncer por exemplo; ou, ainda, “Tá vendo aquela fachada ali, então, é uma casa de tolerância” para se referir um cabaré.
Hipérbole
Hipérbole serve para o contrário do eufemismo, isto é, para denotar algo de maneira exagerada, para dar ares de grandeza a coisas menores. Para um personagem bajulador é um ótimo recurso.
Expressões como “mar de gente”, “enxurrada de críticas”, “Ele foi até as profundezas da terra quando estava em depressão” servem para exprimir sentidos exagerados, mas não para descrever a realidade.
Isso tudo é ilustrativo, mas na prática impossível. Contudo, o efeito de sentido que essas estratégias produzem podem ser bem importantes na hora da escrita criativa.
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Roberton Frizero – escritor
Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).
Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.
O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.
Muito legal adorei.
Parabéns