Robertson Frizero

Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Literatura, no fundo, é um exercício de humanidade. Quando se trata de pensar o fator humano na Escrita Criativa significa explorar narrativamente as possibilidades da existência humana.

Quando se pensa em técnicas de escrita criativa o fator humano tende a ser relegado, na maioria dos manuais, a algo de menor importância. Uma das razões é porque não é fácil de tratar deste tema, então, costuma-se evitá-lo.

O que apresentaremos a seguir, são algumas dimensões do fator humano na escrita criativa. Uma boa referência para aprofundar o tema é o livro Escrever ficção. Um manual de redação (2010), do professor Luiz Antonio de Assis Brasil.


Um ficcionista deve conhecer o tema de sua narrativa?

Sim. A resposta breve é esta, mas isso não implica, necessariamente que a pessoa deve ter vivido tal ou tal episódio para que possa escrever sobre ele.

Por exemplo, um livro sobre um serial killer normalmente é escrito por pessoas que não são homicidas. A questão é que quanto menos vivência um ficcionista tem com o tema de sua escrita, maior deverá ser o esforço de pesquisa sobre o tema.

Para um escritor inexperiente é melhor começar a escrever sobre temas em que sua vivência seja mais familiar. Opte por um assunto que lhes diga respeito, que faça com que não tenha sossego enquanto a história não for escrita.

No cânone literário há toda a sorte de autores. Aqueles que suas narrativas são baseadas em experiências pessoais como Hemingway em O velho e o mar.

Há aqueles cujas narrativas têm como pano de fundo pesquisas extensas, o que é o caso dos romances históricos como, por exemplo, Agosto de Rubem Fonseca.

Escritor definição no dicionáio
Escritor (Pxhere / Creative Commons)

De onde vêm as ideias para a escrita criativa

Não há receita. Mais do que isso, é praticamente impossível mapear de forma precisa qual é a fonte de todo o manancial de ideias que brotam na escrita criativa.

O professor Assis Brasil, na obra citada acima, a partir de experiência de décadas de aula de escrita criativa definiu dois grandes eixos de inspiração que ele chama de “big bang” e “geleia geral”.

As ideias “big bang” na literatura

Segundo Assis Brasil, as ideias “big bang” são próximas da maneira como recordamos os sonhos. Isto é, se não tomamos nota rapidamente, com o passar das horas elas vão sumindo.

Uma vez anotada a ideia geral que despertou o desejo de escrever sobre um determinado tema, é hora de transformá-la em uma narrativa. Aliás, recordando, narrativa é uma história que ao ser contada se preocupa com a forma (o gênero e linguagem) e o conteúdo (os fatos da trama).

As ideias “geleia geral” na literatura

A expressão “geleia geral” foi usada pela primeira vez pelo poeta concretista Décio Pignatari para descrever a cultura brasileira. Dizia ele: “Na geleia geral brasileira alguém tem de exercer as funções de medula e osso”.

Em termos de ideias para escrita criativa, a noção, de acordo com Assis Brasil, remete à ideia de miscelânia. Ou seja, refere-se a um tema que resulta da síntese de um conjunto de ideias difusas, mas que contém o embrião de uma narrativa.


Por qual gênero literário devo começar?

O melhor gênero literário para começar na escrita criativa é aquele em que você se sente mais seguro. É importante, no entanto, conhecer algumas distinções.

No Romance, que é uma narrativa longa, os personagens e a trama são mais complexos. Embora haja um conflito principal, há vários pequenos conflitos na obra que vão transformando o personagem e sua compreensão sobre si e sobre o mundo.

Na Novela Literária, também narrativa longa, , via de regra, um único conflito e os personagens são mais reduzidos. Tudo isso implica um número menor de páginas ao final da narrativa literária.

No Conto o número de personagens é ainda menor que a novela e não raro existe um único personagem que desenrola toda a trama. Neste tipo de narrativa curta, privilegia-se um recorte mais restrito de abordagem.

Às vezes pode ser, até mesmo, um único momento, como no conto Uma vela para Dario, de Dalton Trevisan.


Roberton Frizero – escritor

Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).

Seu livro de estreia,  Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.

O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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