O conto e a literatura de narrativa curta
O conto e a literatura de narrativa curta é um dos gêneros literários mais famosos e comuns no universo da leitura e da escrita criativa. Outros exemplos deste tipo são a crônica e a fábula. A novela literária está a meio caminho do romance, narrativa longa, e dos demais gêneros de narrativa curta.
Do ponto de vista dos elementos do conto, ele é, em geral, formado pelo narrador, personagens, tempo, espaço, enredo, conflito e desfecho. No que se refere à estrutura, o conto é formado por introdução, desenvolvimento e clímax.
Elementos do conto e da narrativa curta
Não existe uma regra restrita que estabelece quais são os elementos que sempre devem compor um conto. No entanto, alguns elementos são essenciais.
Narrador
O narrador, como o próprio nome sugere, é quem conta a história. Basicamente existem três tipos de narradores: narrador-personagem, narrador-observador e narrador-onisciente.
No primeiro caso, é quando um dos partícipes da estória é quem a conta. Já no segundo, quem relata está de fora e observa os eventos e personagens. No terceiro caso, também é um narrador de fora, mas que conhece todo o universo da narrativa.
Personagens
Os personagens são quem vivenciam a história. Eles não estão restritos aos seres humanos, de modo que qualquer ser que ganha vida e consciência pode ser personagem, sejam eles animais, objetos ou seres imaginários.
Tempo
O tempo das narrativas ficcionais tem, basicamente, duas dimensões: do tempo que transcorre a estória e da época a que se refere.
Normalmente, no conto, o tempo que a narrativa transcorre tende a ser curto, mas não é uma regra. Também se pode explorar qualquer período – seja a antiguidade ou os tempos atuais – em uma narrativa curta.
Espaço
O espaço é o local onde os personagens e a narrativa estão inseridos. No conto, normalmente os cenários onde se passa a estória são poucos e não extensivamente descritos para não alongar o texto.
Enredo
O enredo no conto tem a mesma finalidade que nas demais narrativas, ou seja, serve para estabelecer a ordem dos eventos que serão apresentados.
Há, em suma, três formas de estruturar o desenvolvimento de uma narrativa ficcional curta. A mais conhecida é in media res, quando a história começa a partir de um evento especial na vida do protagonista.
Há também a possibilidade de se apresentar a narrativa em ordem cronológica inversa. Uma terceira opção seria ab initio, que conta desde as circunstâncias do nascimento do protagonista.
Mas esta última é pouco usual no conto, devido a especificidade de se tratar de um texto curto.
Conflito
O conflito na literatura ficcional é o problema a ser enfrentado pelo protagonista. Isso não implica que ele precise ser, necessariamente, resolvido.
É no clímax que o conflito da narrativa se torna mais evidente. É o ponto alto do enredo. Neste momento as partes introdutórias e as que fecharão o texto se conectam, dando sentido uma a outra.
Desfecho
Ao desdobramento da narrativa de ficção dá-se o nome desfecho. Neste momento é que o problema pode ser resolvido ou não, mas algo tem que acontecer.
Um bom desfecho é aquele que provoca o leitor, que seja capaz de criar uma espécie de desconforto, que o exija a pensar sobre o conflito. Dependendo do público, o infantil, por exemplo, pode ser interessante que o desfecho resolva o problema.
Estruturalidade do conto
Todos os elementos do conto e da narrativa curta funcionam dentro de uma certa estruturalidade, que se divide em três grandes eixos, como apresentamos inicialmente.
Introdução
Esse é o melhor momento para fisgar o leitor. Se a introdução está escrita de forma burocrática, é possível que ele abandone a leitura logo no início. Então capriche.
Também é nesta parte que normalmente se apresenta o espaço, o tempo e os personagens.
Desenvolvimento
Esta seção é onde a narrativa se desenrola e prepara o leitor para o clímax, quando o protagonista se vê diante do conflito que estabelece o núcleo existencial do texto.
As ações dos personagens, que definirão como cada um é, ocorrem no desenvolvimento.
Clímax ou desfecho
É quando a narrativa dá seus encaminhamentos finais. Tende a ser, do ponto de vista da estruturalidade do conto, a menor das três seções.
Decálogo do perfeito contista – Horacio Quiroga
Este decálogo foi publicado originalmente em 1927, na Revista Babel.
1 — Crê em um mestre — Poe, Maupassant, Kipling, Tchekhov — como em Deus mesmo.
2 — Crê que tua arte é um cume inacessível, não sonhes dominá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem ao menos perceber.
3 — Resiste o quando puderes à imitação, mas imite se a demanda for demasiado forte. Mais que nenhuma outra coisa, o desenvolvimento da personalidade requer muita paciência.
4 — Tem fé cega não em tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como à tua namorada, de todo o coração.
5 — Não comeces a escrever sem saber desde a primeira palavra aonde queres chegar. Em um conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.
6 — Se quiseres expressar com exatidão esta circunstância: ‘Desde o rio soprava o vento frio’, não há na língua humana mais palavras que as apontadas para expressá-la. Uma vez dono de tuas palavras, não te preocupes em observar se apresentam consonância ou dissonância entre si.
7 — Não adjetives sem necessidade. Inúteis serão quantos apêndices coloridos aderires a um substantivo débil. Se encontrares o perfeito, somente ele terá uma cor incomparável. Mas é preciso encontrá-lo.
8 — Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o fim, sem ver nada além do caminho que traçastes para eles. Não te distraias vendo o que a eles não importa ver. Não abuses do leitor. Um conto é um romance do qual se retirou as aparas. Tenha isso como uma verdade absoluta, ainda que não o seja.
9 — Não escrevas sob o império da emoção. Deixe-a morrer e evoque-a em seguida. Se fores então capaz de revivê-la tal qual a sentiu, terás alcançado na arte a metade do caminho.
10 — Não penses em teus amigos ao escrever, nem na impressão que causará tua história. Escreva como se teu relato não interessasse a mais ninguém senão ao pequeno mundo de teus personagens, dos quais poderias ter sido um. Não há outro modo de dar vida ao conto.
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Roberton Frizero – escritor
Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).
Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.
O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.
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